quarta-feira, abril 18, 2012

Encontros, emoções, sentidos: a educação em mim

Quando em 2007 assumi pela primeira vez a docência em uma turma de ensino regular me vi envolvida em um mar de sensações, emoções e aprendizagens.

Atuar com crianças de 06, 07, 08, 09, 10 e até 14 anos em uma turma de 1ª serie foi um desafio, em alguns momentos muito delicioso em outros dolorosos. Era uma escola de pequeno porte em um bairro periferico de Feira de Santana, com crianças de realidades familiares muito diversificadas e complexas. 

Todos os dias eu chegava em casa com uma novidade. Em alguns momentos planejei e não consegui concretizar porque demandas mais importantes surgiram na sala, em outros concretizei com primor todas as ações planejadas. 

Sorri e aprendi uma serie de conceitos, musicas, formas de carinho, de ensinar e aprender com todas as minhas crianças. Em alguns momentos, me invoquei com a diretora, discordei da sua "concepção pedagógica" e forma de lidar com as crianças e mesmo com as demais professoras. Aprendi com as colegas novas ensinagens, construi parcerias e troquei uma serie de conhecimentos, fui aos poucos construindo o sentido e importância do meu papel enquanto educadora.

Percebi a importancia de tratar as pessoas com respeito, com valor, com carinho, e tudo isso me fez muito bem. Ganhei cartinhas, bilhetes, florzinhas, uma infinidade de pequenos presentes, duas festinhas do dia dos professores e o principal ganhei muito amor de cada criança. 

Diversas situações nos envolveram... tive o aluno sonolento que começou a sentar na frente e fazer atividades e que a mãe e o pai vieram na sala me agradecer pelo simples fato da criança ter despertado interesse em escrever seu nome, tive aquela aluna que batia em quem olhava para ela e aos poucos começou a ter melhor relações interpessoais com seus (as) colegas, tive a aluna que todos os dias chegava com elogios, sorriso e abraço, tive o aluno que piscava o olho e me paquerava, tive a outra que queria me apresentar ao tio para que eu fosse da sua familia, tive o aluno revolucionário, tinham os que me seguiam para ir na minha casa, entre diversas outras divertidas situações.

Foi um ano que aprendi muito sobre a importancia da afetivadade, do compromisso, do respeito e da responsabilidade. Foi uma experiencia muito rica, que me ensinou muito e que me fez muito feliz. Quando acabou o ano fizemos reunião com os pais, mães e crianças e a emoção foi o ponto forte. Chorei muito ao longo desse ano com todo carinho trocado. 

Desde encerrada essa experiencia e que minha vida academico-profissional seguiu em frente sempre tive vontade de reencontrar minhas crianças, como sempre os chamei. Eles (as) mudaram de escola, de bairro, de professora, mas a saudade e vontade de saber sobre suas histórias sempre foi presente em mim.

Este ano comecei a ter o doce deleite de viver um pouco esse vontade, caminhando pelo Feira VI com destino a minha casa, encontrei  Ramon, um dos meus meninos, que na rua assim que me viu me chamou pelo nome e veio me abraçar, foi uma sensação tão forte, tão diferente que me consumiu, fiquei tão emocionada em quatro anos depois ele lembrar meu nome e me dizer: "Te reconheci pelas suas tranças. Que saudades". Conversamos um pouco, busquei saber das outras crianças e ficamos de nos ver novamente, convidei-o para ir a minha casa qualquer hora. Fiquei feito boba contando a todo mundo deste encontro.

Ontem caminhando pelo centro de Feira com os (as) colegas do Mestrado encontrei mais uma das minhas crianças, Marta. Olhei aquele rostinho e na hora reconheci, fui chegando perto dela e da mãe, as cumprimentei e os nossos olhinhos brilharam. A mãe me disse que assim que me viu ela falou " Mãe, eu conheço aquelas tranças, ali é minha pró. "

 Ela com aquele jeitinho timido e meigo, só sorria. A mãe me disse que desde 2007 até hoje ela nunca desistiu da ideia de trançar seus cabelos com fibras coloridas e que até hoje fala de mim. Fique mais que emocionada quando afirmaram que até o momento eu sou a professora preferida dela. Fiquei tão lisongeada, que minha vontade era de me derreter em lágrimas. Me contou das novidades, estuda pertinho de minha casa, tem contato com os(as) outros (as) colegas, convidei-a para ir me visitar.

Em casa, fiquei refletindo sobre o quanto foi importante para mim essa experiencia de ensino e o quanto eu não tinha dimensão do significado que minha presença naquela sala de aula tinha na vida dessas crianças, não tinha noção do quanto minhas tranças coloridas demarcariam uma identidade de docente a mim, do quanto que reencontrar essas crianças mexeria com minhas emoções. 

Após esses momentos de reencontros com "minhas crianças", ao pensar meu lugar na educação, pensar que aquelas ações iniciais no meu fazer pedagógico foram importantes não só para mim, mas que imprimiram consequências positivas no viver dessas crianças, só posso dizer que hoje é um dia muito feliz. 

Hoje foi um dia em que pude ter um pouco mais de compreensão sobre meu fazer, pude perceber que a minha concepção de educar e ser educada está no caminho certo, está em um processo que tem implicado impressões e marcas, que tem movido emoções, sensações, sorrisos e saberes.


Mesmo não estando mais em sala de aula, não atuando com crianças, tendo nos ultimos anos me dedicado a formação de professores (as), as discussões sobre gênero e sexualidade e educação, que é algo me motiva de forma singular, tenho cada vez mais certeza que estou no lugar certo. 

A educação é o meu chão. Me move, me motiva,  me emociona, me faz alguem melhor.

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