Destinado a acabar com o mar de mistérios que se fazia pairar sob a casa, Claúdio, após despedir-se dos amigos decidiu chamar Dênis para uma conversa.
A noite estava fria e escura, no céu poucas nuvens ousavam sair de seus esconderijos e povoar os olhos dos curiosos que fora das cobertas estavam, a lua devia estar a brilhando do outro lado do hemisfério.
Dênis mantinha-se em seu mundo amargo de lagrimas, recolhido em uma estranha amargura.
Claúdio bateu a porta, entrou no quarto, sentou ao lado do filho, acarinhou seu ombro e esboçou um leve sorriso, que mais parecia um pedido de compaixão do que demonstração de gentileza.

Dênis foi o primeiro a falar. Perguntou ao pai por quanto tempo este pretendia esconder segredos da familia. Claudio afirmara ao filho que tudo que havia feito foi pensando acima de tudo na proteção desta, em manter a união, harmonia e felicidade. O filho não reconhecia na mentira ou omissão de fatos uma forma de proteção, ao seu ver, tudo construido a partir da mentira seria uma falsa construção.
Ao lembrar da noite em que a esposa, arrumava o escritório e achou uma pasta com diversos documentos, exames, relatos, fotos e um livro de recordações. Chorou!
Um mar de sensações e sentimentos controversos explodiu de seu coração e mente. Aquele homem alegre, livre, que acreditava na beleza da vida e na riqueza da alma, mostrou-se fragil, comum e pequeno.
Um mar de sensações e sentimentos controversos explodiu de seu coração e mente. Aquele homem alegre, livre, que acreditava na beleza da vida e na riqueza da alma, mostrou-se fragil, comum e pequeno.
Claudio falava ao filho que ao chegar em casa viu seu mundo desmoronar. Não queria de forma alguma que a familia descobrisse das coisas que havia feito de forma tão cruel, sem uma conversa, uma preparação.
O filho por sua vez, não entendia como vinte e dois anos não foram suficientes ao pai para que tomasse coragem em compartilhar com a esposa, que o verdadeiro filho deles havia morrido no hospital e ele havia adotado o então Dênis, de uma menina drogada que estava prestes a abandonar seu recem-nascido. Não entendia como pensou em poupar a mãe da dor de uma perda que se deu em função de ações equivocadas por parte desta, em uma gravidez tão desejada . O filho não entendia porque escolher o caminho menos dificil, numa hora em que a verdade não era a pior das coisas. Não entendia ainda porque o pai não contou da chantagem que vinha sofrendo há anos pela verdadeira mãe de Dênis, e inclusive dos golpes que precisou empreender para sustentar sua mentira. E pior, não aceitava o fato do pai ter se apaixonado por esta mulher e ter tido mais dois filhos com ela sem que nunca isso tenha sido revelado.
Na mente de Dênis, não havia explicação para os fatos que o pai ocultara de sua familia, nem motivação para aquele homem que sempre defendeu a verdade, a liberdade, a pureza e belexa das ações, mostrou-se tão igual a maioria dos homens.
Ao ouvir as palavras finais do pai, lembrou-se de Leticia, e de como aquilo tudo devia estar sendo dificil para a irmã, que sempre viveu em mundo perfeito, tendo o pai como heroi, pela sua forma de expressar o mundo.
Ao ouvir as palavras finais do pai, lembrou-se de Leticia, e de como aquilo tudo devia estar sendo dificil para a irmã, que sempre viveu em mundo perfeito, tendo o pai como heroi, pela sua forma de expressar o mundo.
Claudio explicou-se, apresentou razões, justificativas e tudo que pode para fazer-se entender. Mas apenas conseguiu do filho um pedido de tempo para que as coisas fosse digeridas.
Se abraçaram e despediram-se.
Ao puxar a porta para sair, Claudio fitou a foto da familia no painel de metal, uma viagem que fizeram ao Chile, os sorrisos eram amplos, desviou o olhar e observou a noite escura, fechou a porta e foi deitar-se.
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